O ABISMO DOS RATOS

17/05/2009

Semana passada, nos primeiros dias do blog, recebi diversas provocações a respeito dos bares e da minha relação com eles; boa parte delas fazendo alguma referência à Travessa Raticlif  (como ainda é conhecida a agora Travessa Osmar Regueira). E como já falei dos bares, falo agora da Travessa. Mas pouco, pois também não sei muito.

Antigamente, nos princípios da póvoa do Desterro, ela era a o “travessa que vai para Forte”. Forte, no caso, era o Forte de Santa Bárbara (onde está hoje a Franklin Cascaes), com os seus canhões apontados para o Sul e o Sudoeste, e não para o centro da Cidade, como a Dona Lélia dispôs aquele canhão que ela ganhou não sei de quem.

Mais tarde, por meados do século XIX (creio que em 1860), quando o atual arruamento do nosso centro histórico estava basicamente formado, ela passou a se chamar Travessa da João Pinto. E, adiante, após a proclamação da República, passou a ter o nome pelo qual a conhecemos e a amamos: Travessa Raticlif. Nota: esta grafia é errônea; o correto é Ratcliff e, portanto, é assim que vamos grafá-lo daqui por diante.

Ratcliff  era um padre polonês de origem alemã que se instalou em Recife em princípios do século XIX e ficou célebre com o agitador republicano como um dos líderes da Confederação do Equador e da Revolução Praieira. Com a República, juntamente com o Padre Ratcliff, outros heróis pernambucanos como Padre Roma, Frei Caneca, Nunes Machado, Pedro Ivo, também se tornaram nomes de rua, pela mesma época, naquela Desterro que em seguida viraria Florianópolis.

Já disseram muitas lendas sobre a presença de nomes pernambucanos nas ruas da nossa Cidade, coisas ligadas ao porto e ao mar, mas tudo coisas de poetas. Na verdade, foi a República, e apenas a República, que estabeleceu as nomeações.

Mas, voltemos à Travessa Ratcliff. Há cerca de 250 anos ela está instalada no coração da Cidade, sendo sempre um dos seus lugares mais agitados e movimentados, assim como o é o seu entorno. Não me alongo sobre isso, mas sugiro, a quem se interessar, ler o excelente livro de Eliane Veras da Veiga, Florianópolis: Memória Urbana, que acaba de ganhar uma nova edição pela Franklin Cascaes.

Há três anos, por iniciativa do Vereador Guilherme Grillo, o logradouro virou Travessa Osmar Regueira, em homenagem ao proprietário-fundador do Hotel Royal, que ocupa um dos seus lados, entre a João Pinto e a Antônio Luz (mas só tomamos conhecimento do fato no ano passado, quando a Prefeitura substituiu as placas). Houve, então, muita revolta e indignação nos bares da Travessa, mas sem nenhuma consequência prática, até que a Vereadora Ângela Albino propusesse um projeto de lei que está tramitando na Câmara e que recupera o nome histórico.

A Osmar Regueira, no entanto, não vai acabar. Uma solução salomônica foi encontrada para o conflito: o trecho da travessa compreendido entre a Tiradentes e a João Pinto voltará a ser denominado Travessa Ratcliff, enquanto o trecho entre a João Pinto e a Antônio Luz persistirá Osmar Regueira. Assim, todos ficarão felizes! Ainda Vereador, Guilherme Grillo aprovou a proposta e dispôs-se a defendê-la. Portanto, não existe oposição à idéia, já que o único que teria razões para fazê-la seria ele. Além disso, quem consultar o Aurélio saberá que travessa é um logradouro que liga duas ruas, enquanto a Ratcliff parte da Tiradentes e atravessa a João Pinto para alcançar a Antônio Luz. Portanto, sempre tivemos duas travessas, mas com um só nome.

3 Respostas to “O ABISMO DOS RATOS”

  1. Marilyn said

    que interessante!

  2. […] pela parede. Como a ideia aqui não é falar da história do lugar, sugiro que vocês leiam o post do João Carlos, “presidente” da […]

  3. Luiza Pereira said

    João é sempre com prazer e respeito que leio teus textos, te admiro muito!!
    Um abraço mestre
    o blog está ótimo!!

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